Críticas, matérias, entrevistas e reportagens da carreira de Orlando Fassoni.
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19 de abril de 2008

Trinta anos... O MARGINAL

21.03.1975

“O Marginal”, que Dias Gomes transformou em argumento cinematográfico e que Carlos Manga dirigiu, para azar seu depois de um afastamento de 13 anos do cinema brasileiro, é um filme que, lamentávelmente, não escapa da ingenuidade. Excluídas as suas boas qualidades técnicas, resultados, principalmente, do esmero que Oswaldo de Oliveira aplica à fotografia, não há como perdoar uma obra tão ineficiente e tola em seu modo de desenvolver a história de Valdo, o marginal do título. Quem está sentado na poltrona, à espera de, no mínimo, um filme policial mais aplicado, recebe a chatice de um extenso, inexplicável, cru e ingênuo dramalhão onde Dias Gomes colocou bons punhados de tudo o que as telenovelas vendem diariamente.
Vejamos: há um homem, Valdo, que se transforma em assassino porque a sociedade o corrompe. Criança ainda, como o filme mostra em sucessivos flashbacks entre passado e presente, é internado num colégio, de onde foge. Já homem feito, ambiciona alcançar uma posição social e o “status” que lhe fora negado na infância. Trabalha numa boate onde conhece Beth, milionária enganadora de homens e com quem se envolve. Mas conhece também a vedete do rebolado, Leina. Entre uma e outra, decide ficar com ambas. Enquanto isso, começa a subir socialmente e vira dono de uma agência de automóveis. Abandonado por Beth, mata o marido dela, pega 14 anos de cadeia e nesse período de cana pode curtir todos os seus traumas. Ainda preso, é usado por Leina, que se casa com o marginal para alcançar fama e conquistar a TV. Aparece então uma criança que Leina diz ser filho de Valdo. Acreditando na história da mulher, ele decide se comportar bem para ganhar a liberdade condicional. Sai da prisão e vai dedicar-se a um trabalho honesto: chaveiro. É novamente enganado por Leina, fica sabendo que o filho não é seu, espanca a mulher, refugia-se na sua oficina e só sai de lá para enfrentar a polícia. E o resto é o resto.
Qualquer pessoa acostumada a assistir os dramalhões telenovelescos já percebe o que é “O Marginal” nas suas concepções de argumento. Mas não imagina que, num filme, Carlos Manga tenha utilizado de maneira tão pobre a linguagem cinematográfica. As noções mais elementares de ritmo e ação, planos, enquadramentos etc, parecem aplicados, nesta obra, por um cineasta amador e não por um Carlos Manga que merece as melhores referências e que é, neste caso, fatalmente traído: acabou sendo obrigado a trabalhar um argumento que não lhe deu as mínimas chances de realizar um filme mais realista e menos piegas, mais dramático e com menos cheiro de telenovelão.
Dessa incursão ingrata no dramalhão de TV, nem Tarcisio Meira, nem Darlene Glória ou outro qualquer outro ator, passando por um Anselmo Duarte preso a marcações e claramente desinteressado, escapam para um mínimo perdão. É evidente que, sem culpa pela fragilidade com que foram construídos os personagens, os atores de esforçam, mas a tentativa deles é inócua porque não podem enriquecer figuras que nasceram para desfilar durante meses a fio suas caras na televisão, o que, por si só, já é desgastante para eles quando vão fazer cinema. Para o público a que se dirige, “O Marginal” não muda nada. Tanto faz ver um Albertinho Limonta, um Nino ou um Valdo. É tudo igual.

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