Críticas, matérias, entrevistas e reportagens da carreira de Orlando Fassoni.
O material não segue nenhuma ordem, seja cronológica, seja de categoria ou qualquer outra. É apenas um registro digital de muitos anos de jornalismo.

5 de maio de 2008

Trinta anos... O HOMEM NU

1967
Acredito que “A Hora e Vez de Augusto Matraga” tenha sido, até agora, a melhor obra de Roberto Santos, cineasta lúcido capaz de levar adiante, com simplicidade e dedicação, toda produção em que possa analisar detidamente seus personagens e dar-lhes consistência de humanismo, de tragédia e de humor, sem se preocupar basicamente com estilos, simbolismos ou efeitos fotográficos.
Assim é o novo filme dele, “O Homem Nu”. Sem pompa, isento de exercícios de forma e de sofisticação, atrai pela simplicidade com que o diretor aborda o problema do professor Sílvio Proença (Paulo José), de repente transformado em marginal e caçado por uma cidade inteira.
Disse que considero “Matraga” a melhor realização de Roberto Santos por uma razão: sendo uma obra mais difícil, exigiu muito mais esforço cinematográfico de seu realizador e outra visão das situações. Também exigiu uma adaptação mais estudada para que não houvesse qualquer deturpação da obra de Guimarães Rosa. Passado algum tempo – dois anos – Roberto Santos retorna com esta comédia que adapta o conto de Fernando Sabino e que o diretor transforma num filme sóbrio, discreto, sem chavões, despretensioso mas sem a força dramática de “Matraga” e “O Grande Momento”, este último sua estréia em 1958, mas com o espírito alegre de “As Cariocas”. Ao adaptar o conto com o próprio Sabino, Roberto Santos considerou que a simples história de um homem correndo nu pelo Rio de Janeiro oferecia poucas condições para uma análise do personagem e do comportamento de uma cidade diante de uma determinada situação.
Assim, aprofundou-se no roteiro e criou uma trama ao mesmo tempo divertida, bonita mas também trágica em certos momentos. Primeiro, o professor Sílvio num mundo amável, poético, metido numa realidade da qual não queria sair porque abandonar a rotina poderia significar desafios que ele não desejava enfrentar e, dessa forma, penetrar num mundo diferente e cheio de riscos. É o que acontece ao ficar nu num acontecimento simplório. Incapaz de reagir claramente e enfrentar uma realidade que descobria pouco a pouco, em sua fuga e em sua humilhação, Sílvio Proença começa a compreender a outra face de uma cidade e de um mundo que antes era extremamente calmo e acomodado. Uma face meia
Cruel, meia amarga e também meia violenta, que esconde cinismo, egoísmo e muitos esquemas morais para ser sentida e compreendida por um sujeito metido numa situação vexatória à qual estava exposto por acidente. Há a perseguição pelo Rio inteiro e, no final, a conscientização ao descobrir a falta de solidariedade humana e a vulnerabilidade de seu lar. Então surge a amargura e já não existem mais saídas.
Roberto Santos obtém de Paulo José sua melhor interpretação, e no elenco feminino há destaque para Esmeralda Barros porque Íris Bruzzi, Leila Diniz, Ruth de Souza e Joana Fomm pouco aparecem. “O Homem Nu” conseguiu ser um bom filme de costumes e de críticas aos princípios morais das grandes cidades e que poderiam ser colocados também em qualquer pequena cidade porque o comportamento é o mesmo e nada mudou: tipos como Valença fazem parte de um folclore que muitas vezes machuca.

Um comentário:

Sergio Batisteli disse...

Olá Orlando,
Fico muito contente em saber que o senhor está em plena atividade mantendo um blog.
Meu nome é Sergio Batisteli, sou estudante do 4º de jornalismo e estou escrevendo um livro-reportagem sobre a carreira da atriz Helena Ignez.
O fato de ler uma crítica sobre o filme O Homem Nu, um longa-metragem que usa o bom humor para mostrar que a nossa socidade é cruel, resulta num grande estímulo para futuros críticos de cinema que humildemente me coloco.
Por favor quando o senhor puder, acesse o meu blog: www.sergiohpg.blig.com.br Lá tem algumas críticas que escrevi e a sua opinião é muito importante para mim.

Agraço e continue escrevendo!