Críticas, matérias, entrevistas e reportagens da carreira de Orlando Fassoni.
O material não segue nenhuma ordem, seja cronológica, seja de categoria ou qualquer outra. É apenas um registro digital de muitos anos de jornalismo.

17 de abril de 2008

Trinta anos... A GUERRA DOS PELADOS

20/9/1971

Mais lírico do que trágico, mais contemplativo do que emotivo, o segundo filme do diretor paranaense Sílvio Back tenta visualizar as conseqüências da expulsão de posseiros de suas terras, no interior de Santa Catarina, em 1912, por “coronéis” com grandes interesses na implantação de uma ferrovia por grupos estrangeiros. Em troca do desalojamento dos jagunços, eles teriam prioridade para explorar as riquezas das terras roubadas de famílias pobres e humildes.
O episódio ficou conhecido como Guerra do Contestado e desenvolveu-se entre 1912 e 1916 com violentos conflitos entre os “pelados” – os jagunços que rasparam seus cabelos e optaram pela luta armada na tentativa de conservar suas terras – e os “peludos”, representados pelo coronelismo, os homens poderosos de grandes melenas, que tinham como grande arma o auxílio das forças governamentais.
Entre posseiros atormentados e o poder desenrola-se um drama pontilhado pelo messianismo, pelo fanatismo religioso e por seqüências nas quais Sílvio Back tenta certos achados preciosistas. Se a tragédia foi sanguinolenta, apesar de quase ignorada nas páginas da História oficial, o filme só empolga razoavelmente. É o resultado do capricho excessivo do realizador, preocupado mais em fixar a beleza inegável das paisagens e em enriquecer a forma e menos o conteúdo sobre esta tragédia popular do nosso século.
Mas Sílvio Back consegue muito com sua habilidade. Para o espectador, ficam marcadas as passagens cheias de lirismo evocadas num cenário belíssimo que a fotografia de Oswaldo de Oliveira valoriza com maestria. Para o cinema nacional foi a segunda boa contribuição de Back, acentuada por elementos de fácil identificação: a segurança com que dirige, o capricho técnico, a linguagem simples, a reconstituição de época e a escolha de intérpretes bem ajustados aos personagens. De Jofre Soares, o Pai Velho, místico que reúne em torno de si os “pelados”, até Emmanuel Cavalcanti, Zózimo Bulbul, Jorge Karan e Átila Iório, líderes do reduto onde lutam contra os opressores, todos valorizam a obra. Se o tempo apagou os fatos das páginas da História, Sílvio Back se incumbe de revivê-los neste filme que, embora não se aprofunde politicamente na odisséia dos “pelados”, tem valores significativos como resgate da disputa entre os poderosos “coronéis” e os pacatos lavradores convertidos em guerrilheiros numa luta de vida ou morte.

Nenhum comentário: