Críticas, matérias, entrevistas e reportagens da carreira de Orlando Fassoni.
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13 de fevereiro de 2008

UM OLHAR ALEMÃO SOBRE A SEGUNDA GUERRA

Se você é um desses maníacos por cinema já com o saco cheio de tanto ver Harry Potter, Rambo, Batman, horrores, catástrofes, sexo, romantismo e violência, dedique a semana entre 19 e 24 deste mês de fevereiro para acompanhar no Centro Cultural São Paulo – sala Lima Barreto – o ciclo “A Alemanha e a Segunda Grande Guerra”, promovido junto com o Instituto Goethe. São 14 filmes produzidos na Alemanha a partir dos anos 50 e até recentemente, e que tentam explicar como os alemães viram a Segunda Guerra depois que o conflito acabou, em 1945, deixando as seqüelas que todos nós mais velhos conhecemos e vimos em tantos e tantos filmes explorados pelo cinema americano, essencialmente, todos eles feitos sob o ponto de vista dos vencedores, americanos, russos, ingleses e o resto que se envolveu na luta contra Hitler.
Pouco sabemos sobre estes quase novos filmes que jovens e velhos diretores realizaram para tentar explicar fatos e situações que levaram os alemães ao caos. Conhecemos melhor o cinema alemão através das obras – grandes filmes – do expressionismo e seus personagens clássicos, Nosferatu, Caligari, mas pouco sabemos sobre a forma como Adolf Hitler usou o cinema nos anos 30 e 40 para mostrar que não era apenas Stalin o feiticeiro capaz de chutar os calcanhares de Tio Sam. No livro “Cinema e Política” (Editora Paz e Terra, 1976), os autores Leif Furhammar e Folke Isaksson, conseguem nos passar uma boa idéia de como tanto Stalin quanto Hitler usaram o cinema como arma de propaganda. Depois de Lênin, claro, porque, segundo os autores, foi Lênin quem primeiro descobriu que a arte inventada pelos irmãos Lumiére era, na verdade, o mais poderoso engenho de manipulação de massas. Consultando o livro, agora, mais uma vez, lembro que fez parte da Coleção Cinema, da Paz e Terra, então dirigida por Jean-Claude Bernardet e Paulo Emilio Salles Gomes, dois dos nossos mais conhecidos estudiosos. E que o Conselho Editorial da Paz e Terra era formado por Fernando Henrique Cardoso, Antonio Candido e Celso Furtado. Lembram-se deles?
Antes, durante e depois da Segunda Guerra muitos diretores alemães se mandaram ou foram mandados. Fritz Lang foi deles. Foi o mesmo tipo de caça que Stalin havia promovido contra grandes diretores colocados na lista negra – o macartismo soviético – porque vistos como “elementos cosmopolitas”. “Eisenstein - afirmam os autores do livro – era constantemente perseguido por suspeitas enquanto fazia a segunda parte do clássico “Ivan, o Terrível”. Eles também contam que em 29 de abril de 1926, dia da estréia de “O Encouraçado Potemkin” em Berlim, as autoridades alemães já haviam colocado o filme no index dos proibidos. Foi preciso uma intensa campanha da imprensa para liberar a obra, mas os soldados alemães foram oficialmente advertidos de que não deveriam ver o filme porque “encorajava a desobediência, os motins, a rebelião e a revolução”.
Bem, o que vem depois é sabido. Como Hitler já se foi há muito e o cinema alemão, hoje, não tem mais os ranços de anti-semitismo, anti-americanismo ou anti outros povos, é bom conferir na mostra que o Centro Cultural São Paulo inicia na terça-feira próxima, 19 de fevereiro. Vai exibir “Hitler, um Filme da Alemanha”, de Hans-Jurgen Syberberg, dividido em quatro partes, e mais “A Noite, Quando o Diabo Veio”, “A Ponte”, “Alemanha, Pálida Mãe”, “David”, “Estrela Sem Céu”, “Nós, Filhos do Inferno”, uma obra onde o diretor Syberberg tenta explicar, a partir de uma colagem, o Hitler do nacional-socialismo em suas raízes e contextos mitológicos. E mais: “A Rodovia do Reich”, “O Nono Dia” e, encerrando o ciclo, “A Queda – as Últimas Horas de Hitler”, do diretor Oliver Hirschbiegel, que aborda os últimos dias do ditador nazista narrados por Traudi Junge, que era a secretária de Hitler durante a Segunda guerra.

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