Críticas, matérias, entrevistas e reportagens da carreira de Orlando Fassoni.
O material não segue nenhuma ordem, seja cronológica, seja de categoria ou qualquer outra. É apenas um registro digital de muitos anos de jornalismo.

9 de fevereiro de 2008

O VELHO E O MAR

Um amigo pescador com quem conversava num dia desses não se lembrava de um velho filme de Hollywood onde o personagem principal travava uma luta incansável com um grande peixe que fisgara no mar. Respondi que, pela história, só poderia ser o clássico “O Velho e o Mar”, interpretado por Spencer Tracy. Aí, então, a memória dele esquentou, lembrando que havia visto o filme pela primeira vez num cineminha em cidade do Interior paulista e que, na época, já começava a não gostar muito de histórias sobre pessoas obrigadas a enfrentar situações que ele julgava absurdas mas que podiam acontecer com qualquer um que se dispusesse a medir seu grau de coragem e determinação.
Como sei que o amigo é um visitante assíduo do meu blog, mando a ele algumas informações adicionais sobre este filme de 1958, portanto já com meio século, dirigido por John Sturges, que fala sobre o velho pescador Santiago e sua heróica batalha contra o gigantesco espadarte na costa da Cuba, se não me engano. O filme é uma adaptação para o cinema da novela publicada em 1952 pelo escritor Ernest Hemingway (1899-1961), o mesmo autor de “Paris é Uma Festa” e “Por Quem os Sinos Dobram”, entre outras ótimas obras literárias.
Hemingway pôde se dar ao luxo de ter sido um dos poucos escritores que o cinema não traiu. Ao contrário, enalteceu. Suas melhores obras foram filmadas e tiveram versões fiéis, dignas, realizadas por cineastas competentes como Charles Vidor no drama de guerra “Adeus às Armas” (1957), ou Sam Wood na história sobre a Guerra Civil espanhola em “Por Quem os Sinos Dobram”, ou ainda Henry King em 57, com “E Agora Brilha o Sol”, romance com muitas conotações autobiográficas.
Mas talvez tenha sido o diretor John Sturges (“Sete Homens e Um Destino”, 1960) aquele que mais manteve fidelidade a Hemingway ao adaptar “O Velho e o Mar”, uma narrativa relativamente curta mas tratada, na literatura e no cinema, com extrema sensibilidade. Nem Hemingway, nem Sturges, precisaram senão de um peixão e um pescador. E, claro, um barco, o mar e os tubarões. É o velho Santiago (Spencer Tracy, que morreu em 67 aos 67 anos) que, a certa altura do filme, exaurido pelo desgaste na guerra contra o peixe, nos dá a frase que resume toda a filosofia da obra de Hemingway: “o homem pode ser vencido, mas nunca derrotado”. Uma homenagem ao valor e à coragem do ser humano diante da natureza, da solidão e do medo.

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