Críticas, matérias, entrevistas e reportagens da carreira de Orlando Fassoni.
O material não segue nenhuma ordem, seja cronológica, seja de categoria ou qualquer outra. É apenas um registro digital de muitos anos de jornalismo.

31 de março de 2008

A FICÇÃO FICOU MAIS POBRE

Na semana passada, duas mortes sentidas no cinema e na literatura de ficção-científica. Dois nomes que, embora já um tanto tarde, merecem ser lembrados: o ator Paul Scofield e o escritor Arthur C.Clark. Podem anotar nas suas cadernetas de óbitos porque conheço alguns “ratos de cinemateca” que, morreu alguém importante no cinema, literatura, teatro, dança, televisão e até esportes ou balé, vão lá marcar as respectivas datas: nasceu em... e morreu em...
E ainda gostam de registrar do que morreram. Geralmente por falência múltipla de órgãos, definição que os médicos encontraram para enganar os parentes do morto e não dizer a eles que o sujeito morreu de câncer, aids, febre amarela, dengue, sífilis, tuberculose ou fome, até fome.
Scofield se juntou aos raríssimos grandes atores que nunca se deixaram contaminar pela fama. Aliás, o que se sabe dele é pouco, a não ser que, principalmente no teatro inglês, foi muito mais reconhecido que no cinema. Morreu no dia 19 de março, aos 86 anos, em sua casa no sul da Inglaterra, vítima de leucemia. Lembramos dele principalmente por sua excelente interpretação de sir Tomas Moore em “O Homem Que Não Vendeu Sua Alma”, tradução bem à brasileira, ou seja, idiota, para o original “A Man for All Seasons”, o filme do diretor Fred Zinnemann que em 1966 levou os principais prêmios da Academia de Hollywood – filme e direção – além do melhor ator. Scofield, então bancando o filósofo e estadista que em 1528 entra em conflito com Henrique VIII. No cinema, foi tudo o que o ator levou: uma estatueta que talvez tenha servido a ele para prender portas. Inclusive porque Scofield nunca foi cinematograficamente cotado para interpretar grandes personagens, a não ser o Tomas Moore. Mas ainda emprestou seu inegável talento em obras menores como “O Trem”, de Arthur Penn e John Frankenheimer, “Rei Lear”, de Peter Brook, “As Bruxas de Salem”, de Nicholas Rytner. Se fosse pelos filmes que fez, a não ser “O Homem...”, Scofield seria um ilustre desconhecido. Mas o teatro inglês deve muito ao seu talento, e Shakespeare deve ter agradecido a ele pelas grandes atuações que teve nos palcos londrinos.

CLARK

Arthur C.Clark morreu no dia 18 de março. Deve ter sido levado por aquele monólito que colocou no seu livro, e que, talvez nem ele quisesse, acabou se transformando num dos mais complicados enigmas da literatura de ficção-científica. Afinal, o que é aquela pedra negra que permeia o seu clássico “2001: Uma Odisséia no Espaço”?. Boa pergunta a todos os que já viram o filme umas duzentas vezes, e até morrer vão ver mais algumas, isso se não pedirem pra serem enterrados com uma cópia, se possível um DVD que não ocupa tanto espaço e cabe até no bolso do paletó.
Clark foi um genioso escritor de histórias de ficção, mas acho que, nesse gênero, não é possível chamá-lo de “mestre”, porque os entendidos em literatura de ficção-científica acabarão berrando e citando outros nomes. Quais? Fácil.. Alguém se lembra de Ray Bradbury? Ou de Isaac Asimov? Todos eles, claro, na literatura e, da literatura ao cinema. Mas ainda podemos recordar Julio Verne, que inventou aquela viagem à Lua, início de um gênero que depois acabaria com o nosso “2001”, e por que não? - lembrar também os quadrinhos de Flash Gordon. Quem teve infância e trocou gibis nas matinés dos cinemas do interior vai entender porque Flash Gordon já realizava, nos anos 40, através de seu autor, o desenhista Alex Raymond, aventuras que pra todos nós, eram mesmo puras mentirinhas, coisas que só o cinema podia inventar. Anos depois veríamos que o cinema se antecipou à realidade através de filmes, e a literatura idem, com autores como Asimov, Bradbury e Arthur Clark.
Conheço pessoas que nunca leram o livro do autor paparicado mundialmente. E nem tiveram, até hoje, a preocupação intelectual de ver o filme de Kubrick, um monumento em efeitos visuais quase ignorado pela ortodoxa Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, que só premiou a obra com um Oscar técnico. Se o filme fala da ciência a serviço do ser humano, onde ficou a tal de “Ciências” da Academia? Foi outra pisada no tomate, entre tantas outras que Hollywood cometeu. Agora, “2001” está completando 40 anos, e depois dele a ficção-científica, que eu saiba, não criou nada melhor. Para comemorar o aniversário, a Warner lança um DVD duplo com o filme remasterizado, melhor som e imagem e, de sobra, aquele disco extra com o “making of” contendo uma entrevista do diretor, concedida em 1966. Você, que já viu o filme, ainda não fica arrepiado ao acompanhar a sequência do osso atirado ao ar pelo macaco e que, ao som do poema sinfônico “Assim Falou Zaratustra”, de Richard Strauss, transforma-se numa nave espacial viajando no espaço ao som do “Danúbio Azul’? É um lançamento essencial para qualquer videoteca.

2 comentários:

Anônimo disse...

Prezado Orlando,
Belos comentário sobre Clark. Eu admirava-o muito. Além de fã de ficção, trabalho na área de telefonia. Num artigo de 1945, Clark já previa um sistema de satélite geoestacionário chamados por ele de "Estações Repetidoras extra terrestres". Chegou até mesmo a calcular a órbita geoestacionária de 36000Km do equador. Além disso previu também estações orbitais tripuladas. Tudo isso imaginado com válvulas pois não se tinha idéia da transistor que revolucionou a eletrônica.

Saudações e parabéns pelo Blog.

Edson Fassoni (a propósito devemos ser parentes: sou filho de Deoclydes, neto de Lucídio e bisneto de Cesare...)

Fassoni disse...

Caro Edson Fassoni: somos primos em segundo grau, de fato. O Cesare era o mei bisavô, pai do meu avô Gelindro, de Marília. Sou sobrinho do padre Orides, vigário de Andradina, filho da dona Dinha (Elzira), que faleceu em novembro de 2004. Você não enviou seu e-mail, mas gostaria de entrar em contato contigo pra gente se conhecer melhor. Ligue para o meu fone, 55065168, São Paulo, Capital, ou então mande um recado pelo meu e-mail, olfassoni@gmail.com. Aguardo. Um abraço do primo.





caro