Críticas, matérias, entrevistas e reportagens da carreira de Orlando Fassoni.
O material não segue nenhuma ordem, seja cronológica, seja de categoria ou qualquer outra. É apenas um registro digital de muitos anos de jornalismo.

16 de março de 2008

UM GRANDE MOMENTO DO VELHO “WESTERN” - ‘SETE HOMENS E UM DESTINO’, 1960.

No faroeste você já viu praticamente tudo. Já viu, por exemplo, John Wayne perder o chapéu durante uma briga?. Certamente nunca , porque o velho chapéu do “cowboy”fazia parte do corpanzil dele, um dos nossos melhores heróis das matinês. No bang-bang, é claro. Tivemos nas sessões dominicais dos cineminhas interioranos mais heróis do que a nossa imaginação poderia esperar, porque, naquelas boas épocas das pipóííuas e da troca de gibís antes do início das sessões, ou você estava paquerando a garota ou então esperava pelo início do filme. Que podia ser um longa ou, quase sempre, um capítulo de seriado. Então, a festa ia desde Nyoka até Flash Gordon, Jim das Selvas, Tarzã, o Fantasma, Mandrade, Roy Rogers, Gene Autry, o Zorro e outros emblemáticos, problemáticos e enigmáticos personagens, muitos deles nascidos originalmente nas histórias em quadrinhos, que talvez tenha sido a mais rica criadora de heróis para o cinema de aventura.

As emoções desses velhos tempos – puro saudosismo, é claro – ressurgiram quando o lado criança do diretor Steven Spielberg decidiu que a geração dos velhos precisava de um escape cinematográfico pra não morrer sem gozar aquelas deliciosas sensações do “continua na próxima semana”. E criou o mocinho Indiana Jones – Indiana é o nome do cão do produtor George Lucas - que é o sujeito que melhor se adaptou às nossas lembranças dos antigos heróis das sessões dos domingos. E não sem razão: os três filmes da série Indiana, “Os Caçadores da Arca Perdida”, “O Templo da Perdição” e “A Última Cruzada”, de 81, 84 e 89, respectivamente, resgataram a honra do cinema de pura aventura e emoções.

De certa forma, isso ocorreu também com o faroeste “Sete Homens e Um Destino” (“The Magnificent Seven”, 1960), o programão que o canal Cult (Net) exibe segunda-feira, dia 17 (20 horas), um horário, convenhamos, absolutamente ideal para quem não estiver ligado na favelinha do tal de Juvenal Antena, o xodó da novela Duas Caras”, da Globo. Cara por cara, fico com a de Yul Brynner no western que o diretor John Sturges realizou em 1960 montando um elenco de simpáticos fascínoras – Steve McQueen, Charles Bronson, Robert Vaughn, Brad Dexter, James Coburn – contratados para acabar com a farra dos bandoleiros de Eli Wallach que atazanavam a vida dos humildes camponeses de uma aldeia mexicana. São seis homens maus, pistoleiros de saque rápido que topam a parada e vão socorrer as pobres vítimas de constantes saques de suas colheitas. Falta um: é o jovem Horst Buchholz. E é aí que Sturges, sem nenhum constrangimento, revela de onde surgiu a idéia para o faroeste. Buchholz é o mesmo moço atrevido e pouco experiente que Toshiro Mifune desempenhou no clássico “Os Sete Samurais” (Shichinin no Samurai, 1954), de Akira Kurosawa, que tem aquela que os críticos consideram a maior batalha épica do cinema desde a criada por D.W.Griffith em “O Nascimento de Uma Nação”, em 1915.
John Sturges não precisou senão de uma boa história e um bom roteiro para adaptar aos tempos do bangue-bangue a saga dos guerreiros que no Japão feudal vão defender a aldeia ameaçada por quarenta bandidos saqueadores. E vão lutar a troco de comida. Na época, o filme recebeu de uma parte da crítica uma qualificação simplista e injusta, de que se tratava apenas de faroeste japonês. Mas não levaram em conta o fato de que a obra foi um exemplo engenhoso e original de como um tema modesto pode transmitir considerações preciosas sobre coragem, solidariedade, dignidade e moral. Evidentemente, comparar “Sete Homens e Um Destino” com o clássico japonês é bobagem. Mas o simples fato de John Sturges não ter destruído a trama original, transformando-a num western medíocre – ao contrário – nos anos 60 que já prenunciavam a decadência do gênero foi, por si só, uma homenagem aos melhores tempos dos mocinhos que brigavam por boas causas. O elenco sustenta o filme que, além de muita ação e uns rasgos de psicologia, tem a trilha sonora notável de Elmer Bernstein.

No livro “The American Cowboy”, publicado no início dos anos 80, Lonn Taylor e Ingrid Maar, os autores, garantem que o cowboy americano raramente portava uma arma, geralmente era negro ou mulato, às vezes índio, empoeirado e faminto, e desapareceu da América muitos anos antes do nascimento de John Wayne.Segundo a dupla, os trabalhadores migrantes a cavalo que deram origem à lenda faziam parte de um sistema que durou apenas 30 anos, de 1865 a 1895, tempo em que o “boom” da criação de gado empregava cerca de 50 mil “cowboys” nos Estados Unidos. Eles trabalhavam de março a setembro. No inverno, muitos lavavam pratos ou tomavam conta de “saloons”. Mas foram os homens que inspiraram as odisséias criadas pela multimilionária indústria do cinema que faturava alto enquanto seus personagens ganhavam no máximo 30 dólares por semana, trabalhando 14 horas diárias sob calor, poeira, chuva e frio, e alimentando-se de bife, feijão, bacon e biscoitos. O mito do “cowboy” como herói romântico, aventureiro e rápido no gatilho foi detonado em 1902 com a publicação do romance “The Virginian”, de Owen Wister, que no ano seguinte deu origem ao clássico “The Great Train Robbery” (“O Grande Roubo do Trem”), que Edwin S.Porter dirigiu e que é tido como o filme responsável por tudo o que viria depois no “western” que criou centenas de heróicos “cowboys”. Na prática, segundo o livro de Taylor e Maar, eles já haviam desaparecido: a expansão das estradas de ferro para o Oeste americano, a queda nos preços da carne e uma crescente e estrita divisão de terras tornou o cowboy uma figura redundante, reduzindo-o a simples mão-de-obra aproveitada nas fazendas. Essas avaliações podem servir para os dois autores do livro, mas pra nós não servem. Preferimos curtir, ainda hoje, qualquer bom faroeste. E curtir a nostalgia dos tempos do “aí, mocinho!”. E “Sete Homens e Um Destino” é dos bons tempos. Yul Brynner, na época, já era careca, mas escondia sua condição vestido todo de negro, sempre de chapéu, como um Durango Kid brigando na árida paisagem mexicana de cactus, iguanas, cobras venenosas e bandoleiros piores ainda.Algum tempo depois, o cinema americano, saudoso de histórias do Velho Oeste porque não tinha ninguém mais para criar roteiros no mínimo inteligentes e dignos do gênero, parecia ter desistido. Mas o “western” não morreu.

E nunca vai morrer, como não morrerão filmes sobre a Segunda Guerra – Clint Eastwood fez dois, ainda agora – e as outras crises norte-americanas no Oriente Médio, Afeganistão,Iraque, Irã – ainda não, mas estarão quase lá – e, por que não, também aqui na nossa América Latina com esses conflitos de republiquetas que acabarão dando a Hollywood a chance de criar aventuras de guerra que ainda não imaginamos, mas que terão nós, latinos, como personagens principais. Imaginem, por exemplo, um agente tipo 007 enfrentando inimigos colombianos no alto do prédio da Fiesp em plena avenida Paulista. Se duvidarem, esperem!. Ou acreditem que a nossa única esperança será Juvenal Antena.

2 comentários:

Anônimo disse...

Orlando, aqui é Bia, filha do Laerte. Quero agradecer pelo empréstimo dos livros. Foram muito úteis pra mim e fizeram muita inveja quando desfilaram debaixo do meu braço pela faculdade. Por favor, me desculpe pela demora para devolvê-los. Foi difícil ler "Cinema Político Italiano...", pois conhecia pouquíssimos filmes. O engraçado é que, nas últimas semanas, estive escrevendo um roteiro para um curta, meu projeto para este semestre, e só conseguia sentar para escrever ou mesmo ter qualquer luz sobre o rumo que a história tomaria, após abrir esse livro e ler alguma parte de uma entrevista aleatória no livro. Esquisito, né?
Venho acompanhando o blog há algum tempo, mas só me manifestei hoje porque meu pai me mandou parar de ser tímida. Suas opiniões e seu humor são inspiradores. Parabéns pelo Blog! Indiquei para amigos que também são amantes do Cinema.

Até mais!

Unknown disse...

Esqueci!
Meu amigo publicou um vídeo meu no youtube. O Fernando, meu namorado, precisava fazer um filme de um minuto baseado numa teoria que diz que o número de takes pode aumentar a emoção do espectador. Ou seja, fazer uma cena que duraria 5 segundos durar muito mais por meio de diversos takes. No trabalho, isso precisaria ser sincronizado com uma trilha sonora. O filme ficou bem simples, sem nenhuma produção, mas ficou engraçado.
Aqui está o resultado:
http://br.youtube.com/watch?v=vKEL_9kGRyk#GU5U2spHI_4