Críticas, matérias, entrevistas e reportagens da carreira de Orlando Fassoni.
O material não segue nenhuma ordem, seja cronológica, seja de categoria ou qualquer outra. É apenas um registro digital de muitos anos de jornalismo.

11 de março de 2008

A RAINHA QUE FERROU A FOX - ´CLEÓPATRA´, 1963

A televisão paga vem exibindo há três semanas chamadas para que todo mundo pague pra ver, conhecer ou rever e nunca mais querer ver o monumento que foi “Cleópatra” , realizado em 1963. Na última sexta-feira, o crítico Luis Carlos Merten, num artigo no Estadão, comentou como “Os 101 Dálmatas”, aventura de primeira linha com personagens vivos, mulheres, homens e cachorros convivendo numa deliciosa história, tinha tirado os estúdios Disney de um golpe mortal, ou seja, a falência no seu departamento de cinema porque, na época, estava mais preocupada em investir dinheiro nos parques temáticos. Mas como sempre aparecem os salvadores da pátria, surgiram três, Andréas Deja, Clyde Geronimi e o diretor-geral do estúdio, Wolfgang Reitherman, o atrevido sujeito que, alguns anos depois da morte de Walt Disney, o mestre, descobriu que a molecada já não se interessava mais por anões, princesas, príncipes, lobos maus, fadas, madrinhas, pirilipinpins, elefantinhos, ratinhos, gatos e cachorros. Deu sorte. Com inovações, “Os 101 Dálmatas” tirou o atraso nas contas da empresa. E mudou as feições ortodoxas dos desenhos e aventuras produzidas nos estúdios Disney.
Pois bem. Isso vale para quem rever amanhã, quarta-feira, dia 12, às dez da noite, no telecine Cult da Net, o monumental “Cleópatra”, história da rainha que acabou com as finanças da gloriosa Twenthy-Century Fox, na mesma medida em que os dálmatas salvaram a Disney. Só que, no caso da Disney, não havia nenhum cachorro estressado pra atrapalhar as filmagens. Já em “Cleópatra” havia uma pedra no caminho, a atriz Elizabeth Taylor, metida num complicado enredo que, além da história sobre a rainha do Egito, tinha a história dela com crises nervosas, manias de prima-dona, flertes com o ator Richard Burton, brigas com produtores e diretor, atrasos nas filmagens etc,etc,etc.Os bastidores de “Cleópatra”, com certeza, dariam um filme muito melhor do que aquele que podemos conhecer ou rever na quarta-feira na televisão paga. Resta saber quem é que vai suportar os 243 minutos originais do filme- quatro horas e três minutos.A não ser aqueles que, na época, os anos 60, veneravam Elizabeth Taylor com toda a sua incontestável beleza, no rosto e na forma, e colecionavam a revista “Cinelândia”, que semanalmente botava fotos da estrela na capa pra vender motivações eróticas aos rapazolas que liam escondidos os gibis de Carlos Zéfiro. E depois ainda reclamavam de tantas espinhas no rosto.
Elizabeth Taylor foi o que foi Brigitte Bardot um pouco depois, ou seja, a divina inspiração dos garotos masturbadores que mais tarde passariam a curtir a Kim Novak de “Picnic” (“Férias de Amor”), sonhando com aquele mulheraço que dança “Moonglow” com William Holden e dá um show de sensualidade. Mas Miss Taylor não era o anjinho que a gente imaginava. Menos ainda os donos da Fox na época. “Cleópatra” custou 40 milhões de dólares para a Fox, um dinheirão na época. Hoje é grana de um filme de orçamento modesto. Com roteiro baseado em histórias narradas por autores gregos como Plutarco, e no livro “The Life and Times of Cleópatra”, de C.M.Franzero, era para ser o maior espetáculo já produzido por Hollywood . Foi um deles, entre muitos outros, mas enquanto os outros faturaram, as peripécias sentimentais, aventureiras e sexuais da rainha do Egito (69-30 a.C.), uma mulher que as enciclopédias dizem ter sido desprovida de beleza majestosa mas cheia de encanto e inteligência, notavelmente e sedutora de mão cheia. Não sem razão o produtor Walter Wanger escolheu Liz Taylor para o papel. Quem melhor?. Em 63, quando fez o filme, Elizabeth Rosemond Taylor tinha 31 anos e já faturara três maridos.Em 6 de maio de l950, disse que “o coração sabe quando se encontra o homem certo. Não tenho dúvidas de que é com Nick que desejo viver toda a vida”.Primeiro marido, Conrad Nicholson Hilton. “Só desejo estar com Michael, ser sua mulher, Para mim, isto é o começo de um final feliz”. Casório com ator Michael Wilding, em 21 de fevereiro de 1952. Wilding só ficou conhecido pelo casamento com ela, Liz Taylor.Não fosse isso, teria morrido no anonimato. Quando se casou com Mike Todd, em 2 de fevereiro der 1957, disse: “É dele o meu eterno amor...Este casamento vai durar para sempre. Acho que a terceira vez é a vez da sorte”.
Mas em 12 de maio de l959, a rainha do Egito botou chifres na ingênua Debbie Reynolds, que, pra quem não se lembra, fez “Cantando na Chuva”, o clásssico do musical americano, cantando com Gene Kelly.Roubou o marido dele, o inexpressivo Eddie Fisher, casou-se com ele dizendo que nunca tinha sido tão feliz na sua vida e prometia ficar em lua-de-mel “durante trinta ou quarenta anos”.; Claro, ninguém acreditou, porque Liz Taylor já era quase uma ninfomaníaca. E essa queda por homens bonitos iria acabar quando, nas filmagens de “Cleópatra”, insistiu para que o marido Eddie Fisher ganhasse um papel, brigou com meio mundo, teve pneumonia, fingiu o diabo, atrasou as filmagens que custavam 130 mil dólares por dia, meteu o pé no traseiro do marido e. gamada por Richard Burton, casou-se com ele em 15 de março de 1964 com a seguinte jura de amor, segundo o livro da jornalista norte-americana Kitty Kelley: “Estou tão feliz que é quase impossível de acreditar...Amo-o tanto que seria capaz de ficar a seu lado, não importa o que ele pudesse fazer, e o esperaria sempre”.
Bem, com uma rainha egípcia desse tipo, nenhum filme precisaria de mais nada. E se vocês esquecerem os bastidores de “Cleópatra” e prestarem atenção ao que o filme mostra nas suas quase quatro horas, vão descobrir porque a Fox se ferrou gastando tanto dinheiro. Claro, é tudo muito bonito: cenários, fotografia, figurinos, etc, etc. Acabou ganhando quatro Oscar do segundo time, mas o que Fox queria era tudo, ou seja, todos os prêmios principais no Oscar de 1963. O filme foi fragorosamente derrotado por “As Aventuras de Tom Jones”, de Tony Richardson, e nem Liz Taylor, nem Richard Burton e menos ainda Rex Harrison passaram perto das indicações para intérpretes.
O maior prêmio de Liz Taylor como Cleópatra foi ter ganho o marido Richard Burton, Aliás, ela mesma se encarregou de chutar pouco tempo depois, até voltar atrás e viver com ele até o cansaço de tanta cama e bebida. Liz Taylor continua colecionando maridos e permanece bonita graças aos botox e plásticas, Mas, depois de tudo, termino aqui. Se vocês quiserem ver “Cleópatra”, escrevam depois para o meu blog. De minha parte, termino por aqui porque incorreria no erro de montar um texto mais longo do que as quase quatro horas do filme. Boa noite, e boa sorte.

Um comentário:

Régis disse...

Mankiewicz costumava dizer que "Cleópatra" era os três piores filmes que ele havia dirigido.