Críticas, matérias, entrevistas e reportagens da carreira de Orlando Fassoni.
O material não segue nenhuma ordem, seja cronológica, seja de categoria ou qualquer outra. É apenas um registro digital de muitos anos de jornalismo.

31 de janeiro de 2008

QUELÉ DO PAJEÚ

Pedido da visitante Mariana, reprodução da minha crítica sobre o filme “Quelé do Pajeú”, de 1/5/1970, na “Folha de S.Paulo” (Ilustrada).

QUELÉ DO PAJEÚ

Um ar de produto sofisticado impede que “Quelé do Pajeú” seja, realmente, um grande filme brasileiro porque detem algumas das características principais da história de Lima Barreto (o escritor, não confundir com o diretor de “O Cangaceiro”), vista numa tela de 70 milimetros e ouvida em som estereofônico. “Quelé” não é a melhor obra do diretor Anselmo Duarte (ainda hoje, 2008, continuo elegendo “Vereda da Salvação”, mais vigoroso do que o premiado “O Pagador de Promessas”), mas é a maior, a mais espetacular, aquelaque mais se assemelha aos épicos que pouco a pouco perdem o seu lugar no cinema.Essa grandiosidade, porém, não impede que Anselmo Duarte cumpra o seu objetivo e realize uma obra destacada na sua análise, no aprofundamento sobre os problemas e na visão correta de uma realidade. O filme atinge os seus fins com uma narrativa bem elaborada e pela qual consegue, apesar dos escorregões, envolver as platéias sem grandes apelos.
Influenciado em algumas seqüências pelo “western” e em outras por sua vocação em tratar temas regionais, Anselmo Duarte transforma a história de Lima Barreto num filme onde o denominador comum é a violência. É a partir do momento em que vê sua mulher ser violentada que o pacato sertanejo Clemente Celidônio, ou Quelé, começa a se transformar num ser despojado dos seus conceitos de Bem e Justiça, e sai de sua cidade, Pajeú das Flores, em busca de vingança, corroído pelo ódio, envolvido por um ambiente rude e hostil. Na sua trajetória, Quelé passa a ser um justiceiro do sertão, acompanhado por Maria do Carmo (Rossana Ghessa) e obsecado pela idéia de encontrar o desconhecido responsável pela violência contra sua mãe e sua irmã. Quando a missão acaba, ele já é um homem marcado pela necessidade de sobreviver através das armas, já é uma vitima do ódio e da brutalidade do seu meio.
À odisséia do personagem, Anselmo Duarte adiciona aventura, violência, sexo, amor e delírios, elementos dos quais se cerca para a construção de uma narrativa convincente, de clima sempre carregado, de situações dramáticas que transmitem bem os problemas de Quelé e fazem com que o espectador, assistindo as perseguições e injustiças cometidas contra o homem oprimido, perdoe os pecados do personagem e veja nele o símbolo do sujeito desesperado em busca de uma solução violenta numa paisagem onde as condições de sobrevivência não permitem a existência dos fracos. Os artificialismos existem, mas são raros.O nível cai algumas vezes, mas essas quedas instantâneas não comprometem um trabalho vigoroso, elaborado segundo uma visão que penetra nos aspectos psicológicos, sociais e religiosos de uma região onde as constantes são a violência, sexo primitivo, fanatismo e misticismo.
Distribuindo bem esses elementos, jogando entre eles uma relação sentimental que prende Quelé a Maria do Carmo, e outra sensual com Maria Rita (Isabel Cristina), o diretor chega a um filme de cangaço que se assemelha aos faroestes peisológicos, retratando a odisséia rural num tom épico-romântico despojado dos falsos clichês, e leva seu personagem principal a um final onde a solução é o grito de revolta.
Anselmo Duarte poderia, no caso, ter feito um filme sereno, sem as explosões que se sucedem. Mas optou pela grandiosidade e acabou gastando bem o seu orçamento de um bilhão de cruzeiros porque não permitiu que o espetáculo em si contaminasse a sua idéia de expor e analisar problemas do homem diante de uma situação violenta e cruel. Seu trabalho é seguro, apoiado num bom argumento, na música, na fotografia de José Rosa e no desempenho de um Tarcisio Meira que procura evitar os maneirismos de galã da televisão e adota uma interpretação correta. Rossana Ghessa, Jece Valadão e Sérgio Hingst aparecem bem em seus papéis, enquanto Isabel Cristina cumpre sua missão de fornecer à história a presença de uma mulher agressivamente sexy, uma espécie de Brigitte Bardot das caatingas.

3 comentários:

Anônimo disse...

onde consigo esse filme?
mariojunior.pe@hotmail.com

Anônimo disse...

também gostaria de baixar esse filme, meu pai fala muito nele

fernando venancio disse...

É o único filme da Rossana Ghessa que nunca assisti. Não tinha idade na epoca. Foi o.primeiro filme brasileiro em 70mm e estéreo.